Cada queixa pode receber um diagnóstico específico — e, muitas vezes, recebe. Mas, na prática, ela se apresenta de forma única em cada pessoa, pedindo um olhar amplo e uma escuta que se constrói no vínculo, dia após dia, como um trabalho artesanal.

Certamente essa forma de cuidar venha de longe. Sou neta de avós tricoteiras e crocheteiras que me ensinaram, ainda criança, que uma peça só se sustenta quando tramada ponto a ponto. Se uma casa fosse “pulada”, logo apareceria um buraco. Cada ponto tem sua importância no desenho final.

Lembro-me do silêncio cheio de histórias, do cheiro de café passado no coador, do feijão apitando na panela, enquanto o tricô avançava nas pausas. Via minhas avós enrolarem a lã com a habilidade de quem sabia por onde retomar o fio, sem deixá-lo enroscar. Também aprendi que desfazer os nós faz parte do processo.

Do casaquinho de bebê às toalhinhas de crochê que decoraram meu quarto na adolescência, fui descobrindo que a vida se tece assim: fio a fio, encontro a encontro, emendas que compõem quem somos.

Lembro que Sócrates, que se inspirava no ofício de sua mãe, parteira, para falar sobre aprendizado. A maiêutica — “dar à luz” — descrevia o processo de ajudar alguém a parir ideias, dar forma ao que já existe dentro de si.

É assim que vejo meu trabalho: conduzir o nascimento de palavras, sentidos e formas. A clínica, para mim, é esse espaço de criação e de cuidado, onde cada sujeito busca, de modo dinâmico, o seu próprio fio condutor.